quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PSA 182-PESADELO NOS CÉUS


Bem Pessoal; hoje iniciaremos as postagens de acidentes e caixas pretas começando com essa colisão durante aproximação.
Vale para observarmos o perigo de aeronaves pequenas em aeroportos grandes.
Além de não ter muita vez pela preferência dada aos grandes jatos o perigo da falta de informação de tráfego por parte do ATC. O dia 25 de setembro de 1978 raiou como uma gloriosa manhã de outono, típica do sul da Califórnia. Brisa suave, sol brilhando na cidade de San Diego, céus infinitamente azuis. "Uma perfeita manhã para voar", devem ter pensado o Instrutor de vôo do Gibbs Flite Center, Martin Kazy, 32 anos, e seu aluno, David Boswell, 35 anos. Boswell empurrou a manete do Cessna 172 Skyhawk prefixo N7711G, e segundos depois decolava do aeródromo de Montgomery Field, para mais um vôo de instrução para a obtenção de sua carteira de vôo por instrumentos, o certificado IFR - Instrument Flight Rules. Boswell queria um dia ser comandante de jatos comerciais. Jatos como o Boeing 727-200 da Pacific Southwest Airlines (PSA) que, naquele exato instante, vinha em aproximação para pouso no aeroporto internacional de San Diego, conhecido como Lindbergh Field. Naquela manhã o Boeing 727-200 (prefixo N533PS) havia partido às 07h20 de Sacramento e fez uma escala em Los Angeles, de onde decolou as 08h41 para San Diego, destino final do vôo 182. A tripulação do 727 era composta por profissionais experientes. Comandante James McFeron, 42 anos, 14.000 horas e 12 anos no comando dos 727; Primeiro Oficial Robert Fox, 38 anos, 10.000 horas de vôo, metade delas nos 727; Engenheiro de vôo Martin Wahne, 44 anos e nível de experiência comparável ao de Fox. Quatro comissárias cuidavam dos 128 passageiros, um deles um comandante da própria PSA que ocupava um dos jumpseats na cabine de comando do Boeing. McFeron operava o rádio e atuava como assistente de seu Primeiro Oficial, que naquela etapa pilotava o Boeing. O Cessna 172 havia sido autorizado pelo controle de San Diego a realizar aproximações por instrumentos usando os sistemas de ILS de Lindbergh Field. O Cessna já havia executado uma aproximação pela cabeceira 09 e arremetido. Em seguida, fez curva à esquerda e entrou novamente na perna do vento para uma segunda aproximação por instrumentos para a pista 09. O Skyhawk executou então a segunda aproximação e arremeteu por volta das 08h57. Desta vez, porém, foi instruído a manter a proa 070, ficar abaixo de 3,500 pés (em regime visual) e, em seguida, contactar a freqüência de aproximação para San Diego. San Diego operava na cabeceira oposta à 09, a pista 27. Naquele momento, o Cessna deveria entrar no tráfego e fazer sua terceira aproximação pela cabeceira ativa do aeroporto. O Cessna teria então que voar em meio aos jatos comerciais em aproximação para pouso, como o vôo 182. Naquele momento, o trijato cruzava 5.000 pés e seguia o rádio farol de Mission Bay. Vamos agora para a cabine do Boeing 727, acompanhar os últimos minutos do vôo 182 da PSA. APP: Controle de aproximação de San DiegoSAN: Torre do aeroporto Lindbergh - San DiegoCap: Comandante do vôo 182F/O: Primeiro OficialF/E: Engenheiro de VôoCap 2: Comandante sentado no JumpseatN7711G: Cessna 172 SkyhawkO Boeing 727 foi instruído pelo controle de aproximação para entrar na seqüência de pouso e voar na perna do vento. O Boeing recebeu a seguinte instrução às 08h59, alertando para a presença de uma aeronave de pequeno porte, que cruzava o caminho do Boeing. Não se tratava, porém, do N7711G, e sim de outra aeronave de pequeno porte.APP: PSA 182, tráfego às 12 horas (diretamente à frente), uma milha (de distância), no rumo norte.Cap: Ok, estamos observando.Mais alguns segundos se passaram, e o controle de aproximação de San Diego alertou o vôo 182 sobre a presença do Cessna 172:APP: PSA 182, tráfego adicional às 12 horas, três milhas (de distância), ligeiramente ao norte do aeroporto, no rumo nordeste, um Cessna 172 em regime VFR, cruzando 1.400 pés e subindo.F/O: Ok, já avistamos esse também. Nesse mesmo instante, o Cessna 172 chamou o controle de aproximação e informou sua posição. Foi instruído a manter a proa 070 e manter-se abaixo de 3,500 pés até ser vetorado para entrar na seqüência de tráfego. O Piloto-instrutor do Cessna leu as instruções de volta corretamente, mas prosseguiu subindo num rumo diferente do instruído. Ele voava na proa 090 ao invés da 070. Essa mudança de proa, mais do que um pequeno deslize, teria conseqüências terríveis. O controle de aproximação, por via das dúvidas, achou prudente reportar mais uma vez ao PSA 182 a presença do Cessna na sua proximidade.APP: PSA 182, tráfego às 12 horas, três milhas, agora cruzando 1.700 pés.Cap: Tráfego avistado. APP: Ok, senhor, mantenha separação visual e chame a torre Lindbergh em 133.3. Tenha um bom dia.Eram extamente 09h00:34. Em seguida, o controle de aproximação chamou o Cessna e informou da presença do Boeing 727 da PSA. APP: N7711G (prefixo do Cessna), tráfego a duas milhas, às seis horas (atrás de você) rumo leste, um jato da PSA em aproximação para Lindbergh, cruzando 3,200 pés e descendo, tem você avistado.N7711G: Ok, ciente do tráfego, 11G. O Comandante McFeron mudou a freqüência para a torre do aeroporto e reportou sua posição e altitude. O Cessna permaneceu na freqüência da aproximação. A partir desse instante, não ouviu mais nenhuma troca de mensagens entre o Boeing e o solo.Cap: Torre Lindbergh, PSA 182 na perna do vento.SAN: PSA 182, Torre Lindbergh, ah, tráfego à sua frente, um Cessna, a uma milha de distância. McFeron procurava avistar o pequeno Cessna à sua frente. Comentou com os outros ocupantes da cabine:Cap: (hesitante) É aquele alí que estamos vendo(sic)?F/O: Sim, mas não estou vendo ele agora.McFeron respondeu então à torre do aeroporto, de forma nada conclusiva:Cap: Ok, nós tínhamos o Cessna avistado um minuto atrás.SAN: PSA 182, roger.Cap: Eu acho que já passamos por ele à nossa direita. Segundos depois, McFeron comentou com seus colegas, ainda procurando o Cessna pelas janelas do Boeing.Cap: Ele estava por aqui há um minuto atrás. A torre então perguntou quantas milhas mais o Boeing precisaria para entrar na reta final, pois havia na posição de espera na cabeceira 27 outro jato da PSA aguardando para decolar. McFeron indicou que voaria mais quatro milhas antes de entrar na reta final. Em seguida, a torre autorizou a decolagem do outro 727 da PSA e o pouso do vôo 182.SAN: PSA 182, livre pouso.Cap: Ok, PSA 182, livre pouso. Na cabine do Boeing, os tripulantes ainda procuravam através das janelas pelo Cessna. O primeiro oficial, mais concentrado na leitura dos instrumentos, perguntou aos colegas, desconfiado:F/O: Nós estamos livres desse Cessna?F/E: Supostamente, sim. Cap: Acho que sim! Cap 2: Espero que sim! Cap: Antes de entrarmos na perna do vento eu o vi, na posição de uma hora. Ele provavelmente já ficou para trás. Ledo engano. Naquele instante, nos radares do centro de aproximação, o sistema automático de controle de conflito de tráfego, disparou um alarme: o PSA 182 e o N7711G voavam muito próximos. Porém, como ambas as tripulações haviam reportado que estavam visuais, monitorando e cientes de suas respectivas presenças e posições relativas, o controlador considerou normal o alerta. Afinal, a cada dia, soavam em média 13 alarmes como aquele, conseqüência do altíssimo volume de tráfego nos céus californianos. Por precaução, o controle chamou o Cessna e avisou mais uma vez da presença do Boeing 727 nas suas proximidades. Não obteve resposta à sua chamada: naquele instante, os ocupantes do Cessna já não podiam mais responder. Estavam mortos, obliterados em pleno céu pela colisão com o Boeing. F/O: (alarmado) Ei, tem um aí embaixo. Eu estava olhando para aquele outro alí!Cap: Oooopa! F/O: Aghhhhh! Cap 2: Shit! Para horror de dezenas de testemunhas, que acompanhavam no céu cristalino a trajetória cada vez mais próxima dos dois aviões, precisamente à 09h01:47 da manhã, o Boeing colidiu com o Cessna, batendo por trás com a raiz de sua asa direita na cauda do Cessna, imediatamente destroçado pelo impacto. O Cessna desintegrou-se e seus destroços começaram a cair sobre o subúrbio de North Park. Instantaneamente , chamas irromperam da asa do Boeing. Destroços penetraram o motor três, que perdeu potência. Além disso, a parte dianteira da asa, bem como boa parte dos controles aerodinâmicos, os flaps e slats, foram destruídos, criando em relação à outra asa uma assimetria de sustentação que desestabilizou o Boeing 727. Cap: Calma, calma, calma! O que temos aí?F/O: Tá ruim. Fomos atingidos, cara, fomos atingidos! Dez segundos após o impacto, o comandante McFeron chamou a torre do aeroporto de San Diego, num tom de voz inacreditavelmente calmo diante das circunstâncias. Simplesmente disse assim: Cap: Torre, estamos caindo, este é o PSA. Num tom de voz igualmente calmo, como se a mensagem recebida fosse habitual, o controlador respondeu:SAN: Ok, vamos acionar o equipamento (de emergência) para vocês. Gradualmente, o ângulo de descida do Boeing aumentou. O trijato mergulhava em chamas com seu nariz apontando para o solo, como um cometa, uma flecha de fogo que partia em velocidade crescente contra o calmo subúrbio residencial de North Park. O trijato inclinava-se cada vez mais para a direita, até chegar a quase 50º em relação ao solo.Na cabine de comando, os microfones ainda registraram mais dez segundos de vôo, até o Boeing colidir com o solo.09h01:57 - Cap: Whoaaa!09h01:57 - Som do alarme de estol.09h01:58 - Cap: Arghhh, é isso, é isso...09h02:00 - F/E: Bob...09h02:01 - F/O: Shit!09h02:03 - Cap: (falando no sistema interno de aviso aos passageiros) - Posição de impacto!09h02:05 - F/O: Ah, querida... Ma, eu te amo...O último som gravado na cabine foi a curta despedida do primeiro oficial, Robert Fox, para sua jovem esposa, Marianne (Ma). No segundo seguinte, o Boeing explodiu sobre o pacato bairro residencial de North Park.Pelo ângulo agudo em que bateu no solo, pela velocidade em que voava e pela apresença de várias toneladas de combustível nos tanques, a explosão foi devastadora. Em segundos, seus destroços atingiram nada menos que 22 casas em quatro quarteirões. Postes e fios tombaram, cortando a luz elétrica da região.O impacto contra o solo, de tão forte, ficou registrado no Centro de Estudos de Abalos Sísmicos de San Diego. Em segundos, dezenas de corpos e restos humanos espalharam-se pela área, caindo sobre jardins, telhados e árvores. Em menos de um minuto, morreram 146 pessoas: os dois a bordo do Cessna, os 135 ocupantes do Boeing e mais 9 pessoas atingidas em solo.

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