A ECTAA, organismo europeu em que a Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (APAVT) ocupa uma vice-presidência, formalizou na sexta-feira passada, dia 24 de Julho, uma queixa na Comissão Europeia contra o Grupo Lufthansa relativamente à taxa de 16 euros que o grupo anunciou vai passar a aplicar a partir de 1 de Setembro nas reservas efectuadas através dos sistemas de reservas disponíveis para as agências de viagens, denominados por GDS.
A queixa foi apresentada pela Confederação Europeia das Associações de Agências de Viagens e Operadores Turísticos (ECTAA) na Direcção de Mobilidade e Transportes da Comissão Europeia, tendo como base a aplicação do Regulamento da UE 80/2009 sobre o Código de Conduta para os Sistemas de Distribuição Global (GDS).
A ECTAA indica num comunicado que procedeu a “uma cuidada análise dos canais alternativos [aos GDS] propostos pela Lufthansa, incluindo os sites individuais das transportadoras em questão, ou a plataforma para os agentes do grupo” e concluiu que “não só não eram eficientes e viáveis, como ainda constituíam um retrocesso enorme nos actuais processos automatizados de reserva e emissão de bilhetes que os GDS constituem”.
“No seguimento de uma análise legal detalhada do anúncio da Lufthansa, a ECTAA decidiu apresentar queixa junto da Comissão Europeia, na medida em que a acção do grupo alemão de transportes constitui uma quebra do Regulamento 80/2009 do código de conduta para os GDS, em particular no que respeita às provisões dos artigos 10.4 e 10.5 do regulamento”.
“Efectivamente, se a plataforma de agente da Lufthansa cumpre a definição de um GDS como se encontra no artigo 2.4 do Regulamento, a Lufthansa, como ‘parent carrier’, é obrigada a cumprir com as obrigações especificadas nos artigos 10.4 e 10.5”.
A taxa anunciada pela Lufthansa a 2 de Junho para entrar em vigor a partir de 1 de Setembro, segundo a mesma nota, “representará um significativo acréscimo de custo para os consumidores” e colocará “os agentes de viagens numa situação de desvantagem competitiva face à distribuição directa por parte destas companhias aéreas”.
O presidente da APAVT e vice-presidente da ECTAA, Pedro Costa Ferreira, citado no comunicado, afirma que “desde o início do processo que estivemos cientes que este assunto tinha que ser tratado ao nível europeu, e não apenas nacional. Daí que nos tenhamos desde logo integrado nos trabalhos desenvolvidos pela ECTAA”.
Pedro Costa Ferreira acrescenta que “em qualquer circunstância, é dever da APAVT lutar pelos direitos das agências de viagens e pela liberdade económica, sempre na primeira linha da defesa do consumidor”.
A ECTAA prossegue em investigações legais “para saber até que ponto estas acções da Lufthansa infringem também as regras de concorrência europeia (artigos 101 e 102 do Tratado da UE)”, conclui o comunicado.
Um passageiro que viajava a bordo de um avião da companhia chinesa Shenzhen Airlines tentou pegar fogo na aeronave, tendo utilizado um recipiente com gasolina e um isqueiro de fumador. Atentos às ‘manobras’ do tresloucado e ocasional companheiro de viagem, alguns passageiros e comissários de bordo conseguiram dominar o incendiário e o fogo que fez estragos a bordo, mas de pouca monta, já que não colocou em causa a estabilidade da aeronave.
O avião, um Airbus A320, pousou no Aeroporto de Guangzhou, tendo declarado emergência. A bordo seguiam 95 passageiros e nove tripulantes, que abandonaram o avião pelas mangas de socorro imediatamente após a paragem do aparelho. Duas pessoas ficaram feridas e tiveram de receber assistência médica.
Fica no Algarve, é mantida em segredo e é uma das poucas clínicas no mundo que tratam tripulantes, sobretudo pilotos, com desequilíbrios de saúde mental. Ainda em janeiro, um piloto obrigou um avião da Condor a aterrar de emergência em Faro. Depois, andou nu pelo aeroporto
Um piloto alemão da companhia germânica Condor teve uma perturbação mental e o comandante viu-se obrigado a aterrar de emergência. Foi em janeiro deste ano, dois meses antes da tragédia da Germanwings nos Alpes. O Airbus A320 saíra de Hamburgo com 143 pessoas e não chegou ao destino, nas Canárias, mas conseguiu aterrar em Faro. O comandante reagiu a tempo. Estava no céu português quando pediu ajuda.
Passavam oito minutos das oito e meia da manhã, de 18 de janeiro, quando os controladores aéreos portugueses receberam um alerta de “incapacidade do piloto”. O comandante do A320 da Condor em velocidade de cruzeiro rumo a Lanzarote, ‘entrou na frequência’ para informar que o copiloto estava incapaz e tinha de aterrar.
Por cima de Lisboa recebe indicação para ficar na pista da capital, mas o dia estava cinzento e o comandante não se sentiu seguro para aterrar sozinho. Desceu para Faro. “Durante o desvio, informou a tripulação de cabina, os passageiros e as operações sobre as alterações ao voo, solicitando assistência médica ao copiloto aquando da chegada”, consta da informação publicada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA), encarregado de esclarecer o que se passou.
Às 9h16, o A320 tocou no chão algarvio, “tendo o piloto sido logo assistido por uma equipa médica”. Mas, “devido a não ser observada nenhuma melhoria do seu estado de saúde, foi transportado para o Hospital de Faro”. E o que se seguiu foi mais inesperado.
O copiloto, de 25 anos, terá fugido do hospital. Antes das duas da manhã, já do dia 19, entrou num hotel junto ao aeroporto. “Esteve poucas horas no quarto e não tomou pequeno-almoço”, conta ao Expresso um dos empregados. “Não se identificou como piloto e pagou em dinheiro.” Minutos depois estava de volta ao aeroporto para receber a namorada, que vinha em seu socorro.
Nu pelo aeroportoSegundo funcionários aeroportuários, às 8h30 o jovem tentou entrar na zona reservada para esperar “alguém muito especial”. Foi-lhe recusado e despiu-se. Colocou a roupa num contentor de lixo e deambulou pela área de passageiros.
A Cruz Vermelha do aeroporto foi chamada, outra vez, e o piloto levado, novamente, para o hospital. Ninguém na unidade hospitalar quis falar sobre o caso, mas o porta-voz da ANA, responsável pelos aeroportos, confirmou o incidente. Sabe-se ainda que o piloto terá permanecido internado em cuidados psiquiátricos até à chegada dos pais, três a quatro dias depois.
Clínica no AlgarveA perturbação do copiloto alemão está longe de ser única e até podia ter sido evitada, também no Algarve. A curta distância do aeroporto funciona uma das poucas clínicas no mundo que tratam tripulantes, sobretudo pilotos, com desequilíbrios de saúde mental.
Andrew Vincent instalou-se no Algarve há dez anos, “por ser um lugar calmo, anónimo e fácil de chegar a partir de qualquer parte do mundo”. A clínica, Nova Vida, funciona numa casa que em nada se distingue das que estão à volta. O segredo é para ser guardado.
Lá dentro, surgem os sinais de que a habitação não é uma residência comum. A decoração é espartana e na sala, com vista para a piscina, há uma máquina de café e loiça empilhada para self-service. Há também lápis de cera, para desenhar o contorno do corpo e assinalar onde está a angústia, o medo ou a raiva.
Por ali já passaram 40 pilotos, 20 dos quais nos últimos dois anos. Vêm de Hong Kong, do Reino Unido ou da Holanda. Nenhum de Portugal. A maioria ronda os 45 anos e é comandante: “Têm mais stresse, porque os copilotos são jovens e arrogantes, acham que já sabem tudo, e precisam de estar alerta mais tempo.”
Os pilotos chegam com problemas de stresse, ansiedade ou esgotamento e partem após seis consultas ou duas semanas de terapia intensiva, nas situações mais graves, sempre com sessões individuais. “Muito do nosso trabalho é de terapia cognitiva para ajudar a resolver o stresse e a ansiedade, inclui comida saudável, exercício, formas de relaxamento...”, exemplifica Andrew Vincent.
“Todos trabalhamos melhor sob stresse até certo ponto, mas é preciso saber parar”, alerta. Em parceria com a Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA), a equipa da Nova Vida vai desenvolver um plano para ajudar tripulantes portugueses que precisem de ‘desligar’. “Queremos também criar uma comissão para perceber se as aferições psicológicas que são feitas aos pilotos são suficientes”, explica o presidente, Miguel Silveira.
Boicote alemãoO incidente continua sob investigação do GPIAA e com vários entraves. “Estamos a ter extrema dificuldade em aceder aos registos médicos, porque a Condor não quer dar o histórico do piloto”, afirma o diretor, Álvaro Neves. O responsável já pediu à congénere alemã para interceder junto da companhia e pedir também o processo clínico pessoal, que pode não ter sido comunicado à Condor.
Mesmo com muitas restrições, os investigadores portugueses souberam a posteriori que “o copiloto teria tido um ataque de epilepsia e que já teria estado suspenso de voar”. Aliás, “o próprio comandante sentiu medo do comportamento do copiloto, que ainda está suspenso”, disse ao Expresso um elemento das autoridades aeronáuticas portuguesas.
No relatório preliminar, incluindo o que foi feito pelo comandante, consta apenas “incapacidade do piloto”, como é a norma. “Quando acontece uma ocorrência deste tipo, é sempre ‘catalogada’ como ‘pilot incapacitation’ e nunca sabemos a causa dessa incapacidade. Pode ser doença súbita, stresse, epilepsia, dores de ouvidos”, explica o responsável do GPIAA.
A investigação dará as respostas. Os 138 passageiros, o comandante e os restantes quatro tripulantes de cabina seguiram viagem na tarde do dia 18, com outro copiloto.
O presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, Luís Gamito, explica que a epilepsia tem muitas formas. “A epilepsia do lobo temporal leva a alterações do comportamento e confunde-se com a patologia psiquiátrica, inclusive provocando automatismos como movimentar-se sem ter noção.” O médico admite que a doença pode ‘escapar’ aos exames, mas “é pouco provável”.
A epilepsia impede ser-se tripulante (ver caixa) e se o piloto já tinha estado suspenso, alguém falhou. “O médico aeronáutico afere os aspetos psicológicos na conversa durante a consulta, mas não sei se essa aferição é ou não suficiente”, confessa o comandante Miguel Silveira.
A tragédia provocada em março por um copiloto da Germanwings relançou a discussão sobre a avaliação da saúde mental dos tripulantes. Há orientações para reforçar os requisitos mas cada país tem a palavra final. E na Europa falta um sinal da Agência para a Segurança da Aviação. “Espera mais conclusões, por exemplo sobre este caso, para alterar as regras”, adianta o responsável pela aviação civil portuguesa.
Os peritos insistem que os incidentes por incapacidade psíquica dos pilotos são raros (ver exemplos fatais), no entanto, só em Portugal há dois registos recentes. O caso da Condor e outro, em outubro de 2013, com a Ryanair. O comandante foi incapaz de se manter aos comandos e o copiloto aterrou de emergência, também em Faro. O Boeing rumava a Tenerife com 167 passageiros e seis tripulantes.
CASOS FATAIS
24/03/2015
O copiloto do Airbus A320 da alemã Germanwings tranca-se no cockpit e faz embater o aparelho contra os Alpes franceses. O comandante tenta até ao fim arrombar a porta de acesso aos comandos, com segurança reforçada na generalidade dos aviões desde o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, nos EUA. Morrem as 150 pessoas a bordo. A investigação ainda decorre, mas há provas de que o copiloto estava dado como inapto para voar por um médico assistente privado.
29/11/2013
O comandante do Embraer ERJ-190 da angolana LAM aproveita a ausência temporária do copiloto e despenha o avião no Parque Natural Bwabwata, na Namíbia. Não sobrevive nenhum dos 33 ocupantes, sete dos quais portugueses. A investigação revelou que o comandante estava em processo de divórcio e que naquele dia fazia um ano que um dos filhos se suicidara.
31/10/1999
O copiloto do Boeing 767 da egípcia EgyptAir fica sozinho no cockpit e inicia uma descida a pique. O comandante ainda tenta inverter a manobra. O Boeing ‘mergulha’ no Atlântico pouco depois de ter descolado de Nova Iorque, nos EUA, e mata as 217 pessoas a bordo.
19/12/1997
O Boeing 737 da Indonésia SilkAir fica sem comunicações, faz uma descida abruta, parte-se no ar e despenha-se no rio Musi, na Indonésia. A descida terá sido uma manobra intencional de um ou dos dois pilotos do avião. Os 104 ocupantes morrem.
21/08/1994
O piloto do ATR 42 da marroquina Royal Air Maroc desliga o piloto automático após descolar de Agadir e voa em direção ao solo. Despenha-se perto de Tizounine, em Marrocos. As 44 pessoas a bordo não sobrevivem.
09/02/1982
O comandante do McDonnell Douglas DC-8 da nipónica Japan Airlines aproveita a manobra de aproximação ao aeroporto de Tóquio para despenhar o aparelho. O copiloto tenta recuperar o controlo mas o aparelho cai nas imediações da pista. Tira a vida aos 24 ocupantes. O comandante tinha regressado de baixa devido a uma “perturbação psicossomática”.
26/09/1976
Um piloto rouba um Antonov 2 da russa Aeroflot e voa contra um bloco de apartamentos em Novosibirsk, onde vivia a ex-mulher. Morrem o piloto e 11 pessoas a circular na rua. A ex-mulher do tripulante não é atingida pela colisão.